A MULHER ASSENTADA SOBRE UMA BESTA
O apóstolo João, em sua visão apocalíptica, é convidado por um dos sete anjos que possuíam as sete taças a presenciar a condenação de uma figura simbólica conhecida como “a grande prostituta”. Esta personagem é descrita no versículo 1: “E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças e falou comigo, dizendo-me: Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas.” Esta “prostituta” é acusada de corromper os reis da terra e de embriagar os habitantes do mundo com o “vinho da sua prostituição” (versículo 2).
João, sem hesitar, é levado em espírito por esse anjo a um deserto, onde vê uma mulher sentada sobre uma besta escarlate, cheia de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres (versículo 3). Essa mulher, que se refere à grande Babilônia, foi mencionada anteriormente em Apocalipse 14:8, onde sua condenação já havia sido proclamada com júbilo pelos céus.
A besta sobre a qual a mulher estava montada é sem dúvida a mesma que apareceu no capítulo 13, simbolizando o poder outorgado pelo dragão vermelho. A cor escarlate, os sete cabeças e dez chifres, indicam suas características diabólicas e sua oposição a Deus. A mulher estava assentada sobre a besta, sugerindo uma relação de submissão mútua, possivelmente devido a um pacto entre o império ressuscitado, simbolizado pela Besta, e um poder religioso dominador, representado pela mulher.
Essa mulher é descrita como estando “vestida de púrpura e de escarlata, adornada com ouro, pedras preciosas e pérolas, e tinha na mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição” (versículo 4). Sua aparência ostentosa e atrativa encobre a profundidade de sua iniqüidade, simbolizada pelo cálice que contém as abominações e a imundícia de sua prostituição.
As Escrituras nos alertam sobre esses males. A idolatria e a corrupção são claramente condenadas: “As imagens de escultura dos seus deuses queimarás a fogo; não cobiçarás a prata nem o ouro que estão sobre elas, nem tomarás para ti, para que não te enlaces nisso; pois abominação é ao Senhor teu Deus” (Deuteronômio 7:25). “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia” (Gálatas 5:19).
No versículo 5, lemos que na testa da mulher estava escrito o nome: “Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da Terra.” Aqui, o termo “Mistério” sugere um segredo não revelado, relacionado à apostasia religiosa que caracteriza esse poder.
Essa mulher não é apenas uma figura de idolatria, mas também uma perseguidora violenta. No versículo 6, é dito: “E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração.”
O professor W.G. Moorehead comenta que essa prostituta representa a cristandade alienada de Deus e inteiramente secularizada. Ele sugere que o romanismo é o principal alvo dessa profecia, identificando a Igreja Católica Romana como a figura representada por essa mulher, devido à sua história de perseguições e idolatrias.
Roma, conhecida como “a cidade dos sete montes” (versículo 9), sempre foi associada ao papado, que ao longo dos séculos exerceu enorme poder sobre nações e governos, muitas vezes perseguindo aqueles que se opunham ao seu domínio. A mulher de escarlate, embriagada com o sangue dos santos, é uma imagem poderosa da perseguição religiosa promovida pelo sistema apóstata.
O versículo 7 revela que João ficou admirado ao ver a mulher e todo o seu aparato, mas o anjo prontificou-se a revelar-lhe o mistério tanto da mulher quanto da besta.
QUEM É A BESTA? (versículos 8-11)
O anjo começa a explicar a João o mistério da besta. No versículo 8, é dito: “A besta que viste era, e já não é; e há de subir do abismo, e irá à perdição.” Esta besta simboliza o Império Romano em suas quatro fases:
- “Foi” – refere-se ao período em que Roma era uma potência no mundo antigo, desde sua fundação até sua transformação em império.
- “Já não é” – descreve o período em que o Império Romano entrou em declínio, perdendo seu poder e influência.
- “Há de subir do abismo” – sugere um ressurgimento do império, mas desta vez com um caráter satânico, ligado à figura do Anticristo.
- “Irá à perdição” – profetiza a ruína final do império, que será julgada e destruída por Cristo em sua segunda vinda.
Os que habitam na terra, cujos nomes não estão inscritos no livro da vida, se admirarão ao ver a besta que era, e já não é, mas que virá.
AS SETE CABEÇAS E OS DEZ CHIFRES
O anjo continua a explicação no versículo 9: “Aqui há sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada.” As sete cabeças também representam sete reis: “Cinco já caíram, e um existe; outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo” (versículo 10). A besta que era e já não é, é também o oitavo rei, pertencente aos sete, e está destinado à perdição (versículo 11).
Esses reis representam diferentes formas de governo que existiram ao longo da história do Império Romano. “Cinco já caíram” refere-se a governos que já passaram; “um existe” indica o governo que estava presente no tempo de João; e o “outro que ainda não veio” sugere um futuro ressurgimento do império sob um novo líder, que terá breve duração antes de sua destruição final.
No versículo 12, o anjo explica que os dez chifres representam dez reis que ainda não receberam o reino, mas que por uma hora, juntamente com a besta, receberão poder. Estes reis têm um só propósito e entregarão seu poder e autoridade à besta (versículos 13-14).
Esses dez reis, unidos à besta, lutarão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, porque Ele é o Senhor dos senhores e Rei dos reis, e com Ele estarão os chamados, eleitos e fiéis.
O MISTÉRIO DAS ÁGUAS
Finalmente, o anjo revela no versículo 15 que “as águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas.” Isso significa que a influência da mulher, ou seja, o poder religioso apóstata, estende-se sobre muitas nações e povos.
A profecia conclui com uma descrição do destino final da mulher e da besta, onde o poder terreno será destruído pelo juízo divino, e o Cordeiro triunfará sobre todas as forças que se opõem a Ele.
Versículo 15: “E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas.”
Neste versículo, a visão das “águas” sobre as quais a grande prostituta está assentada é explicada pelo anjo como sendo uma representação dos povos, multidões, nações e línguas. Isso indica o alcance e a influência vastos e globais do poder representado pela mulher. Ela não domina apenas um grupo específico ou uma região, mas exerce sua influência sobre todo o mundo. Esta descrição sugere uma unidade aparente que, na verdade, esconde uma multiplicidade de culturas e nações que estão submetidas a esse poder.
Versículo 16: “E os dez chifres que viste na besta são os reis que receberam poder como reis, mas ainda não o receberam; e receberão poder por uma hora, com a besta.”
Os “dez chifres” representam dez reis ou reinos que, num futuro profético, se unirão à besta, simbolizando uma coalizão de poderes que estará em aliança com a besta. Este versículo destaca que esses reis ainda não receberam seu poder no tempo em que João escreve, mas o farão por um breve período (“uma hora”), indicando um tempo limitado de domínio e influência. Esta união de forças políticas com a besta reflete um alinhamento de interesses contra o Cordeiro, numa última rebelião global.
Versículo 17: “Porque Deus pôs em seus corações que cumprissem o Seu intento, e tivesse uma só intenção, e desse à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus.”
Aqui vemos a soberania de Deus sobre os eventos finais da história. Embora os reis e a besta estejam em rebelião contra Deus, é Ele quem, em última análise, controla o desenrolar dos acontecimentos. Este versículo lembra que até os atos de rebelião final serão usados para cumprir os desígnios divinos. Os reis, movidos por Deus, entregarão seu poder à besta, mas este poder será temporário e destinado ao cumprimento dos propósitos divinos.
Versículo 18: “E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra.”
O capítulo se encerra identificando a mulher como a grande cidade que exerce domínio sobre os reis da terra. Esta cidade, interpretada por muitos estudiosos como Roma, simboliza o poder e a corrupção do sistema mundial que se opõe a Deus. A identificação da mulher com uma cidade específica reforça a ideia de que ela representa não apenas um poder religioso, mas também político e econômico, com uma influência avassaladora sobre os governantes da terra.
Reflexão Teológica
Este capítulo do Apocalipse é um dos mais simbólicos e complexos de toda a Bíblia, oferecendo visões poderosas que apontam para o julgamento final do sistema mundial que se opõe a Deus. A grande prostituta e a besta simbolizam a união do poder religioso apóstata com o poder político corrupto, e sua condenação é certa. A narrativa revela a futilidade da rebelião contra Deus e a certeza do Seu julgamento justo.
Os intérpretes ao longo dos séculos têm identificado a prostituta com diferentes entidades, mas o tema central é a advertência contra a aliança com o mundo e a corrupção que dela decorre. A mensagem para os crentes é clara: devemos nos manter fiéis a Deus, evitando a sedução dos poderes deste mundo e permanecendo firmes até o fim, sabendo que o triunfo de Cristo é inevitável.
A figura da grande prostituta também serve como um chamado à vigilância para a Igreja, para que ela não caia na tentação de comprometer sua fidelidade a Deus por causa do poder, riqueza ou influência. É uma advertência contra o sincretismo e a corrupção espiritual, lembrando que, no final, o poder de Deus prevalecerá e a justiça será feita.
A conclusão do capítulo nos leva a contemplar a soberania de Deus sobre a história. Mesmo quando parece que o mal está triunfando, devemos lembrar que Deus está no controle, dirigindo os eventos de acordo com o Seu plano perfeito. E, no final, aqueles que permanecem fiéis a Cristo serão vitoriosos, participando da vitória do Cordeiro.
Este estudo do capítulo 17 do Apocalipse nos desafia a refletir sobre a nossa própria fidelidade a Deus em meio a um mundo que muitas vezes se opõe aos Seus princípios. A visão profética de João serve como um alerta e um conforto, assegurando-nos que, apesar das tribulações, a vitória final pertence ao Senhor.
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